Quarta-feira, 9 de Abril de 2014

conversas ao fim da tarde

Ele estende-se na cama ao lado dela.

Toca Djavan, o disco do costume, baixo, os telemóveis desligados, a mesa posta para o jantar. O cão dorme estendido aos pés da cama.

Está calor, mais calor. Ela sente essa bondade.

Depois de lhe ler um texto alto, texto que ele aprova, como é habitual, pensa que as palavras são coisas que se atiram para dentro do computador e que podiam fazer a diferença se, porventura, calhassem a ser originais. Não são. Ela explica-lhe a ideia, as crianças, a vidinha, o que tem construído mentalmente. Ele recolhe a informação de olhos fechados. Não por estar a pensar na morte da bezerra, mas por estar concentrado no que ela diz.

São assim. Ela fala, ele ouve. Quando ele fala, ela interrompe. É a sensação que tem. Seja como for, é o final da tarde e já nada os detém, logo podem conversar. Ou ficar calados. Qualquer das soluções é válida. Ao fim de dez anos, podem fazer como lhes der na real gana e o cão continuará na mesma. Têm pena de estar exilados, longe de casa e a casa ali tão perto, exposto, aberta, explodida. Não falam disso.

O miúdo diz: malta, janta-se ou quê?

Ou quê.

publicado por Patrícia Reis às 00:08
link | comentar

por este mundo acima_

Por este mundo acima

pesquisar neste blog_

 

arquivos_

Os Livros_

Clique na imagem

para comprar o livro.




















subscrever feeds