Então, fazes o tal esforço, um esforço extra, o que seria se dissesses tudo o que pensas, quem sobreviveria a tal chorrilho de disparates, nem tu, por saberes que se disseres em voz alta o que sentes ou julgas pensar terás o momento de arrependimento máximo no exacto segundo em que as palavrinhas atingirem o ar dos outros. O drama são os outros, pois, cada pessoa é uma humanidade, é repetir a ideia e repetir até que fique, e viver a dor devagarinho e em silêncio. Estás muito crescida, logo podes calar. No exercício de não dizer o que sentes ou te apetece pensar, gritas dentro de ti, tens gestos precipitados que revelam essa impaciência ou zanga, mas não pode ser zanga, isso seria andar para trás, quando na verdade só queres mesmo é ficar num outro tempo, um tempo que não existe, talvez já tenha existido, talvez esteja por existir. As questões existencialistas. Concentras as tuas ideias nos seis homens justos que sustêm o mundo, não és judia, mas acreditas nisto, e por que não?, acreditas e até pensas ver, em homens ou mulheres, essas personagens que nos salvam de terror do fim. Seis pessoas que permitem que a terra gire, que o sol queime, que o vento assobie e outras banalidades deste teor, e ainda a ideia de que a amanhã é que é. Não é. Amanhã não é. Então, fazes o tal esforço, um esforço extra para deixar estar quem anda à tua roda, para te deixares estar. Poderia ser uma dança chinesa, mas é só um esforço extra.